Os impasses que caracterizam o cenário da aprendizagem profissional no Brasil ainda são consideráveis. De acordo com o Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) de 2009, publicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o país tem apenas 16% do seu potencial de contratação de aprendizes. O número de jovens contratados é de 196.016, em comparação ao potencial de contratação de 1.220.628.
Motivados pela comemoração do Dia Mundial do Jovem Trabalhador (25/04) e do Dia Mundial do Trabalho (01/05), entrevistamos o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) Yann Duzert, especialista em Negociação. Duzert, que é também consultor para a Presidência da República (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - CDES) e para a Organização Mundial do Comércio (OMC), nos falou, em entrevista exclusiva, sobre desafios e soluções para este panorama, bem como sobre a necessidade de valorização do profissional técnico.
Desde o ano 2000, a Lei do Aprendiz estabelece que empresas de médio e grande portes devem ter jovens aprendizes entre seus colaboradores. Contudo, permanece o desafio de fazê-las cumprir com tal obrigação. Nesse sentido, quais seriam os principais entraves a serem enfrentados, na sua visão, para que essa situação seja revertida?
Há duas soluções, duas alternativas. Uma é a motivação, é dar vontade às empresas a quererem ter aprendizes. E isso ocorre principalmente através da divulgação. Precisamos explicar que haverá um apagão de mão de obra no país, as empresas precisam entender e antecipar essa situação. Os jovens também precisam ser motivados a quererem permanecer nas empresas de forma duradoura. Assim, eles serão inseridos e moldados à cultura da empresa. Esse é um argumento motivacional e de recursos humanos, e também qualitativo, de formação de mão de obra.
A segunda solução é a razão repressiva, de fiscalização, porque o Ministério do Trabalho já indicou em várias instâncias, palestras, e documentações que progressivamente vai começar a cobrar. E as empresas não podem ser vulneráveis em termos de imagem, de reputação. Não querem ser vistas como aquelas que não investem nos jovens, em Responsabilidade Social, no emprego e que não cumprem a lei. Há um custo para imagem. Esse argumento se refere a perdas por multas, perdas de imagem, pois o cliente e o consumidor fiscalizam a reputação da empresa.
Como se sabe, e o senhor reiterou, o mercado de trabalho no Brasil caminha para um cenário chamado pelos especialistas de “apagão de mão de obra”. Qual seria o papel dos programas de aprendizagem profissional, como o Aprendiz Legal, para a mitigação deste contexto desfavorável?
O Aprendiz Legal é a solução ideal, porque concilia a prática empresarial, a vida na empresa, com a formação teórica e profissional do jovem. Essa solução é muito mais completa, mais rica como experiência, e assim eu aposto que nós vamos poder, além de cumprir a lei, completar esse apagão, porque a Fundação Roberto Marinho tem habilidade em soluções educativas em grandes volumes, já com a experiência dos Telecursos.
Na sua opinião, o que é preciso fazer para mudar a cultura empresarial brasileira com relação à importância da aprendizagem profissional?
É entender que em países que tiveram essa experiência há mais de 10 anos, como a Alemanha, a aprendizagem permite sair do cenário de proletarização do profissional técnico. A aprendizagem é uma passarela que permite o acesso do jovem ao ensino superior, por exemplo. Ela é um elevador. Muitos aprendizes hoje são diretores de empresas no Brasil, onde cerca de 50% dos jovens deixam a escola cedo. Se valorizarmos o ensino técnico, valorizamos esses alunos. O sonho de alcançar a direção de uma empresa ou fazer uma faculdade se torna um sonho possível. A aprendizagem é, assim, uma ponte para se desenvolver ao longo da vida.
Quais seriam os benefícios para o empresariado com relação ao investimento na formação profissional dos jovens aprendizes como parte de sua política de RH?
Primeiro, é de prevenção de risco de não crescer pela falta de mão de obra, de não poder crescer como os concorrentes que investem na aprendizagem profissional. O segundo é o retorno sobre investimento, como falei anteriormente, de ter pessoas que são “taylor made” para a realidade e cultura da empresa, ou seja, é uma pessoa que vai se encaixar perfeitamente. É muito importante para a competitividade da empresa ter jovens vivos, qualificados, para evitar a perda de fôlego mais a frente.
Fonte: Site Aprendiz Legal